Esta deformidade facial atinge hoje no Brasil uma criança a cada 650 nascimentos. No Ceará, o número chega a ser ainda maior por ser um Estado do Nordeste, onde fatores como a seca e a desigualdade social influenciam diretamente na alimentação das gestantes, que por falta de nutrientes imprescindíveis para o desenvolvimento do feto, ficam mais suscetíveis a gerar em seu ventre um bebê com esta má formação, pois uma das possíveis causas da mesma é justamente o déficit nutricional durante a gravidez.
Em todo o Ceará, o único local do Sistema Único de Saúde que acolhe estas crianças e oferece tratamento gratuito é o Hospital Infantil Albert Sabin, que apesar de ser referência, encontra-se sem profissional de fonoaudiologia na área da reabilitação da fala desde março de 2018, fato que tem gerado muitos prejuízos aos mesmos, já que o acompanhamento multidisciplinar ocorre geralmente, pelo menos, até a maioridade, principalmente quando são casos mais complexos, em que os pacientes não operam no tempo certo, e por isso ficam com seqüelas que deixam a voz anasalada (fanha) e por este motivo são alvos de preconceito e discriminação, tornando-se pessoas excluídas socialmente.
Lamentavelmente, por falta de informação, muitas pessoas, até mesmo esclarecidas, apresentam uma percepção totalmente equivocada referente à reabilitação do paciente fissurado. O que a maioria pensa é que basta uma simples cirurgia no lábio e pronto, tudo resolvido. Mas a realidade é bem diferente. Em grande parte dos casos, estes bebês além da fissura no lábio, apresentam também fenda no palato, o que requer pelo menos três cirurgias (queiloplastia – primeiro ano de vida, palatoplastia – no segundo ano de vida e enxerto ósseo alveolar – entre 9 e 12 anos de idade) . Este é o protocolo básico nesses casos, acrescentando muitos outros procedimentos que variam de acordo com cada situação. As três cirurgias, que devem ser realizadas no tempo certo, são apenas pontos-chaves do tratamento, que sem o acompanhamento multidisciplinar de forma correta, que inclui profissionais especializados e excelência na frequência das consultas, dificulta a reabilitação total do paciente.
De nada adianta operar e não oferecer, por exemplo, a este paciente um serviço de fonoaudiologia para acompanhar a evolução da fala, ortodontistas para avaliar o posicionamento dos dentes,